A reconstrução do imperio estelar – O retorno do exilado

Capítulo 1: O Retorno do Exilado

A cidade resplandecia no horizonte como uma jóia de luzes cintilantes. Ao longe, os picos prateados das torres do Império Estelar se erguiam majestosos, cercados pela neblina dourada de uma alvorada recém-nascida. Após anos vagando pelos ermos frios de Ceilondres e pelas florestas densas das Terras das Sambaias Gigantes, Lord Maximus Klaudeka de Asturias, Comandante dos Exércitos do Norte e General da Legião Félix, estava finalmente de volta à capital do poder.

Montado em seu cavalo negro de crinas longas, cujos cascos faziam ecoar cada passo pelas avenidas largas de mármore, Maximus observava os cidadãos com uma frieza calculada. Suas armaduras, desgastadas pelas batalhas no exílio, ainda reluziam sob o brilho das três luas que despontavam no céu, lembrando todos que o viam do motivo de sua temida reputação.

O exílio havia marcado sua alma. Ele partira como um general vitorioso, mas retornava com o peso de uma história que poucos ousavam contar. As cicatrizes em seu rosto contavam de traições, de conspirações que o haviam afastado da corte, de mentiras tecidas nas sombras. Agora, porém, as intrigas palacianas iriam ruir diante de seu retorno. Havia planos em movimento, alianças formadas no silêncio, e um desejo inabalável de retomar o que lhe fora injustamente tirado.

Enquanto cruzava o portão principal da cidade, onde as bandeiras imperiais ainda tremulavam com os símbolos da águia bicéfala, o povo se reunia nas ruas, murmurando seu nome. Os mais jovens o olhavam com curiosidade; os mais velhos, com temor e reverência. Muitos lembravam-se dos dias de glória sob seu comando, mas também das guerras que ele travara contra os próprios nobres que agora buscavam a todo custo manter seus tronos.

"Lord Maximus Klaudeka está de volta...", murmuravam os guardas nos portões, com olhos arregalados. "O Exilado retornou."

Maximus, sem desviar o olhar, rumou em direção ao Palácio Imperial, onde o trono que outrora jurara proteger esperava por um novo soberano. O eco das lembranças era intenso, mas sua determinação ainda mais. Ele sabia que os salões do poder estavam mais traiçoeiros do que nunca, e seus inimigos, antigos e novos, aguardavam por seu primeiro movimento.

Mas Maximus Klaudeka de Asturias não era conhecido por hesitar. O exílio o fizera mais forte, e as cicatrizes que carregava eram marcas de sobrevivência, não de derrota. O Império Estelar em breve conheceria uma nova era — e ele, o General da Legião Félix, seria o arquiteto de sua ascensão ou queda.

"Que comece o jogo", murmurou ele para si mesmo, enquanto as portas do palácio se abriam diante de sua presença imponente. O retorno estava apenas começando.

Capítulo 2: As Sombras no Trono

O grande salão imperial permanecia intocado pela passagem dos anos. Colunas de mármore branco, adornadas com entalhes de águias de duas cabeças, erguiam-se em direção ao teto abobadado, onde lustres dourados brilhavam à luz de mil velas. Para Lord Maximus Klaudeka de Asturias, o ambiente evocava lembranças de poder e traição. Aquela era a arena de jogos perigosos, onde as intrigas valiam tanto quanto espadas afiadas.

À frente, no centro do salão, uma figura distinta o aguardava. O Oráculo Darius de Astar, envolto em suas vestes cerimoniais de veludo roxo e dourado, mantinha-se imóvel como uma estátua, seus olhos fechados em aparente contemplação. A cabeça parcialmente encoberta pelo capuz deixava à mostra apenas parte de seu rosto marcado pelo tempo, dando-lhe a aparência de alguém que havia testemunhado eras inteiras se desdobrando diante de si.

“Lord Maximus Klaudeka...”, a voz do oráculo ecoou suavemente quando os olhos dele finalmente se abriram. O tom sereno disfarçava a profundidade de seu conhecimento e a malícia de sua posição. “O retorno do Comandante dos Exércitos do Norte era uma visão há muito aguardada.”

Maximus inclinou levemente a cabeça em reconhecimento, mas manteve o olhar fixo e firme. O Oráculo Darius de Astar não era apenas um conselheiro comum; ele era uma figura envolta em mistério, com uma rede de influências que se estendia por todo o Império. Era dito que ele podia ver além do presente, manipulando eventos para satisfazer suas próprias ambições.

“O destino é caprichoso, Oráculo,” respondeu Maximus com frieza controlada. “Mas não me guio por visões ou profecias. Meu retorno se deu pela lealdade ao Império.”

Darius deu um leve sorriso, os olhos estreitos, como se estivesse esmiuçando as palavras de Maximus em busca de segredos ocultos. “Lealdade... sim. Mas o que fazer quando os que governam não são mais dignos de lealdade, Lord Maximus? O trono vacila, o Imperador envelhece, e há aqueles que já discutem o futuro de nossa nação.”

A menção à fragilidade do Imperador fez Maximus cerrar os punhos por instinto. O Império, que ele jurara proteger, agora parecia refém de homens que tramavam nas sombras. E o Oráculo Darius, que já fora um servo do trono, agora mais parecia o arquiteto das incertezas que permeavam os salões imperiais.

“Falar sobre o futuro do Império antes de o trono estar vazio parece uma atitude imprudente, Oráculo,” Maximus replicou com um tom afiado. Ele não era homem de se deixar levar por conjecturas ou promessas vazias.

Darius se aproximou lentamente, cada passo seu era leve, quase inaudível. “Imprudente seria ignorar o que está por vir. Eu vi, em minhas visões, o caos à espreita. Existem muitos que querem moldar o destino do Império, mas poucos com a força necessária para guiá-lo.”

Maximus manteve-se impassível, mas sentia o jogo perigoso que o oráculo tentava jogar. O poder que Darius detinha não era físico, mas de influência. Suas palavras moviam nobres, seus conselhos moldavam reis, e suas visões influenciavam o destino das nações.

“O destino do Império será guiado pela força de sua liderança, não por sombras ou intrigas,” respondeu Maximus, com a voz firme. “Eu lutei nas fronteiras, enfrentei o exílio, e agora retorno para cumprir meu juramento ao trono e ao povo. Não me interessa quem sussurra nas cortes. O que importa é quem tem a coragem de liderar.”

Darius o observou atentamente, e seu sorriso enigmático se alargou, revelando uma pontada de diversão. “Ah, Lord Maximus... sempre o guerreiro, sempre o pragmático. Mas saiba que a força não reside apenas na espada. Existe um poder maior nas palavras não ditas, nos acordos feitos nas sombras. O trono é um símbolo, sim, mas as correntes que o sustentam estão nas mãos de quem controla o coração e a mente dos que se ajoelham diante dele.”

“Você é hábil com as palavras, Oráculo, mas não me deixarei guiar por elas.” Maximus deu um passo à frente, reduzindo a distância entre os dois. “O trono não é um brinquedo nas mãos de conspiradores.”

Darius manteve a calma. “E, no entanto, há muitos que pensam o contrário. Nobres, generais, líderes de guildas... todos com suas próprias ambições. Seu retorno complica as coisas para muitos, Lord Maximus. Eu o avisei não por malícia, mas por sabedoria. Esteja atento aos que o cercam.”

Maximus olhou para os olhos profundos e inescrutáveis do Oráculo. Sabia que, por trás daquela máscara de serenidade, Darius de Astar tramava algo maior. Ainda assim, o tempo de agir não era agora. Ele precisava entender o cenário político antes de fazer seu movimento. Cada passo seria crucial, e ele não subestimaria os inimigos que se escondiam nas sombras.

“Eu sempre estou atento,” respondeu Maximus com voz de aço. “E aviso você, Darius, que meu caminho não será detido por visões ou conselhos enigmáticos. O futuro do Império será decidido pela ação, e não por palavras.”

Sem esperar por uma resposta, Maximus deu meia-volta e saiu do salão, suas botas ecoando no mármore frio. Ele sentia o peso do trono sobre seus ombros, mas não se deixaria intimidar. O jogo estava apenas começando, e ele sabia que, para vencer, precisaria estar sempre um passo à frente dos conspiradores — incluindo o Oráculo Darius de Astar.

O exilado havia retornado, e a luta pelo Império estava prestes a começar.

Capítulo 3: O Verdadeiro Líder

Maximus avançava pelos corredores do palácio, suas botas ressoando sobre o mármore negro com o peso da expectativa que agora o cercava. Embora o Oráculo Darius de Astar estivesse sentado no trono do Grande Líder, ele sabia que o verdadeiro poder ainda residia nas mãos do Imperador Luiznho Ecariodes, a figura silenciosa, mas poderosa, que regia o destino do Império Estelar.

O retorno de Maximus Klaudeka havia agitado as águas da política imperial. Ele sentia o olhar de todos sobre ele, não apenas os servos que se apressavam pelos corredores, mas também os olhos atentos de quem estava por trás das grandes decisões. E em algum lugar nas sombras, o Arcanjo Gabriel, General dos Exércitos Imperiais, observava tudo em silêncio. Gabriel era conhecido por sua imparcialidade e força, um guerreiro quase mitológico cuja lealdade ao Império era inquestionável. Maximus sabia que seu retorno não havia passado despercebido por ele.

À frente, as grandes portas douradas que levavam à câmara privada do Imperador se abriram lentamente, revelando o coração pulsante do poder imperial. As paredes da câmara eram adornadas com tapeçarias ancestrais, retratando batalhas épicas e os fundadores do Império. No centro da sala, sentado em uma cadeira modesta, estava o Imperador Luiznho Ecariodes.

A aparência do Imperador era quase humilde, em nítido contraste com o esplendor à sua volta. Seu manto imperial era simples, mas elegante, e seus olhos cansados brilhavam com uma sabedoria que Maximus sempre respeitara. Ao seu lado, porém, no trono do Grande Líder, o Oráculo Darius de Astar permanecia como uma sombra, um vulto que parecia absorver a atenção de todos no salão.

Maximus ajoelhou-se diante de Luiznho Ecariodes, mas seu olhar rapidamente se dirigiu a Darius. O jogo de poder era claro. Embora o Imperador ainda fosse o verdadeiro líder, Darius havia se posicionado como o governante de fato, manipulando as correntes invisíveis que mantinham o Império de pé.

“Majestade,” Maximus disse, com respeito genuíno na voz. “Retorno a este solo sagrado com um juramento renovado ao Império e à sua liderança.”

O Imperador acenou com a cabeça, um leve sorriso em seus lábios envelhecidos. “Lord Maximus, seu retorno é um alívio para nós. O Império está em uma encruzilhada, e homens como você são necessários mais do que nunca.”

Maximus inclinou a cabeça, mas não podia deixar de notar o olhar de Darius de Astar, sempre presente, sempre vigilante.

“O retorno de Maximus Klaudeka, de fato, marca um ponto crucial para o Império,” disse o Oráculo, sua voz sibilante quebrando o silêncio. “Mas o futuro é delicado, meu caro Imperador. Não devemos nos agarrar ao passado, mas sim olhar para o que está por vir. E as visões que tive... elas falam de mudanças.”

“Visões”, murmurou Maximus, incapaz de esconder o desprezo em sua voz.

Luiznho Ecariodes o encarou com um olhar mais profundo. Embora não falasse com a mesma força que Darius, sua autoridade ainda era incontestável. “Maximus, sei que você tem suas reservas quanto ao papel de Darius. Mas o Império enfrenta desafios que exigem... todas as vozes que possam contribuir.”

Antes que Maximus pudesse responder, a figura imponente de Gabriel, o Arcanjo, apareceu à entrada. Sua armadura brilhava com o reflexo dos estandartes imperiais, e suas asas prateadas, embora retraídas, faziam sua presença parecer divina. Os olhos de Gabriel varreram a sala, e Maximus sabia que ele estava ali para observar, avaliar e talvez intervir se necessário.

“O retorno de Lord Klaudeka é um sinal de tempos conturbados,” Gabriel disse, com sua voz baixa, mas poderosa. “Mas também é uma oportunidade. O Império precisa de seus guerreiros, de seus líderes... e de sua unidade.”

Maximus percebeu a nuance nas palavras de Gabriel. O general dos exércitos imperiais era um homem de ação, mas também um estrategista. Ele estava enviando uma mensagem clara: havia conflitos internos à espreita, e a lealdade de Maximus seria testada, assim como a de todos os que se sentassem àquela mesa de poder.

Darius sorriu levemente, como se também tivesse compreendido a mensagem. “A unidade é, de fato, o que todos buscamos. Mas a unidade verdadeira só pode ser alcançada quando todos aceitam seu lugar no destino que está por vir.”

Maximus apertou o maxilar. Ele sabia que Darius estava tentando manipular a situação, colocando-se como o visionário necessário para guiar o Império. Mas o exilado retornara para outra coisa. Para ele, o Império não era uma ideia abstrata a ser moldada por profecias e visões. Era uma realidade viva, forjada nas batalhas e nas lealdades que jurara.

“Majestade,” Maximus disse, ignorando Darius por um momento. “Eu estou aqui para servir, como sempre fiz. Mas o Império precisa de líderes que olhem para o presente com clareza, não apenas para um futuro nebuloso.”

O Imperador Luiznho olhou para ele longamente, como se pesasse suas palavras com cuidado. “Maximus, você sempre foi um homem de ação. E talvez seja disso que o Império realmente precise agora. Porém, os tempos são diferentes. Muitas forças estão em jogo, algumas visíveis, outras escondidas. A sabedoria de Darius tem nos mantido longe de desastres.”

Maximus podia sentir o peso das palavras do Imperador, mas também sabia que o poder estava escorregando de suas mãos. E enquanto Gabriel permanecia como observador, era evidente que o futuro do Império não seria decidido apenas pela lealdade ao trono. O Império estava à beira de uma nova era — e Maximus teria que escolher cuidadosamente seu próximo passo.

“O tempo dirá, Majestade,” Maximus respondeu finalmente, com um leve aceno de cabeça. “Mas estarei aqui, pronto para agir.”

Darius sorriu enigmaticamente, mas Gabriel, com seus olhos profundos e serenos, permaneceu em silêncio, observando como sempre.

Capítulo 4: O Silêncio do Imperador

O grande salão do trono estava mergulhado em uma atmosfera pesada, quase sufocante. As paredes altas, adornadas com símbolos do poder imperial, pareciam distantes e imóveis, como se o próprio edifício estivesse à espera de um desenlace inevitável. No centro de tudo, sentado no Trono do Imperador, estava Luiznho Ecariodes, a figura frágil que, apesar de sua aparência quase despretensiosa, carregava nas costas o peso de todo o Império.

À sua frente, os Infieis do Norte, uma delegação de homens austeros, trajados com as cores escuras que representavam suas terras gélidas e áridas, aguardavam impacientemente. Seus rostos, rígidos e impassíveis, eram o espelho de sua causa: insubmissão. Eles haviam cruzado os vastos desertos de gelo e as montanhas inóspitas para estarem ali, diante do verdadeiro líder do Império.

O silêncio era tão denso quanto a tensão no ar. O Oráculo Darius de Astar, como sempre, permanecia em seu lugar, observando tudo do trono do Grande Líder, sem interferir, apenas com seu sorriso enigmático e olhos quase cerrados. Mas hoje, não era ele quem falava. Hoje, as palavras pertenciam àqueles que ousavam desafiar a ordem imperial.

"Majestade," começou o líder dos Infieis, sua voz ecoando com firmeza pelo salão. “Viemos até vós com um pedido... Não mais podemos ser ignorados nas decisões que afetam as nossas terras. Por gerações, as regiões ao norte têm sido negligenciadas, as promessas quebradas, e nossos recursos explorados para o benefício da capital. Exigimos igualdade. Exigimos nossa voz no Conselho Imperial.”

O Imperador Luiznho ouvia em silêncio, seus dedos finos tocando suavemente o braço do trono, mas seu olhar fixo permanecia firme no líder que se atrevia a confrontá-lo com tais exigências. Ao lado, o Arcanjo Gabriel, o General dos Exércitos Imperiais, permanecia de pé, calmo, mas atento, sua presença física dominando o espaço, embora sem emitir qualquer palavra.

O homem continuou, ganhando confiança com o silêncio prolongado do Imperador. “Nossas tropas são leais, Majestade, mas nossa paciência se esgota. Não viemos aqui para ameaçar, mas para negociar. Queremos garantir que nossas vozes sejam ouvidas, que nossos homens recebam o reconhecimento que merecem por defender as fronteiras do Império durante tantos anos.”

A cada palavra, a tensão no salão parecia aumentar. As palavras flutuavam no ar, afiadas como lâminas. Os Infieis estavam ali não como súditos, mas como iguais, desafiando a ordem estabelecida.

O Imperador Luiznho, ainda em completo silêncio, manteve sua postura serena, seus olhos não piscavam, sua respiração era quase imperceptível. Internamente, porém, algo fervilhava. Ele sabia que o poder estava sendo testado, que suas próprias palavras ou silêncio poderiam desencadear uma série de eventos imprevisíveis. Sua vontade de responder era imensa, de cortar as palavras afiadas dos Infieis com o peso de sua própria autoridade.

Ele queria gritar que o Império era indivisível, que as terras do Norte pertenciam ao trono assim como todas as outras. Que os sacrifícios feitos não eram esquecidos, mas que a unidade do Império vinha antes de qualquer voz dissidente.

Queria proclamar que os Infieis, apesar de suas exigências, continuavam sendo uma parte inseparável do Império, e que a segurança do trono e a paz de todos os povos dependiam da submissão às leis imperiais. Mas, acima de tudo, ele queria lembrar a eles quem realmente estava no controle.

Contudo, o Imperador permaneceu calado. Seu desejo de falar ardia dentro de si, mas ele sabia que, naquele momento, o silêncio também era uma arma. A presença de Darius, embora inquietante, reforçava a ideia de que qualquer movimento precipitado poderia trazer consequências desastrosas. E o olhar calmo, mas firme, de Gabriel sugeria que o momento de agir ainda não havia chegado.

A delegação, visivelmente frustrada com a ausência de uma resposta imediata, trocou olhares desconfortáveis. O líder dos Infieis deu um passo à frente, ousando desafiar mais uma vez o silêncio imperial.

“Majestade, será que o silêncio é a resposta de vossa graça às preocupações de milhares de súditos ao norte? Ouvi rumores de que o trono está dividido entre aqueles que desejam preservar a tradição e os que buscam um novo caminho... Não viemos aqui para dividir, mas para encontrar uma solução.”

A menção de uma divisão no trono ecoou pela sala como uma bomba. Todos sabiam que, enquanto Darius de Astar continuasse a manipular as sombras, o Imperador enfrentava uma batalha velada por sua própria autoridade. Mas os Infieis eram ousados o suficiente para tocar nesse ponto sensível, colocando em palavras o que muitos apenas murmuravam.

O Imperador finalmente moveu-se. Seu olhar atravessou os homens à sua frente, com uma mistura de impassividade e uma raiva controlada. Ele não precisava de palavras para transmitir sua mensagem. Seu silêncio era seu julgamento, sua decisão — e, naquele momento, ele decidiu esperar. Não por fraqueza, mas por estratégia.

A tensão no ar parecia quase sufocante quando, de repente, o Arcanjo Gabriel deu um passo à frente, quebrando o silêncio absoluto. Sua voz, profunda e firme, ressoou pelo salão.

“O Imperador escutou,” disse Gabriel, seus olhos penetrantes encontrando os do líder dos Infieis. “E a resposta virá... no momento certo. Agora, vocês devem lembrar-se de onde estão. Estão diante do trono, diante do Imperador que reina sobre todos, do Norte ao Sul.”

Os Infieis, embora frustrados, reconheceram a presença de Gabriel como uma força imponente. Sabiam que insistir mais poderia desencadear algo muito maior do que eles estavam preparados para lidar.

O líder dos Infieis inclinou-se levemente, mais por obrigação do que respeito. “Esperaremos a resposta, então, General. Mas lembre-se... o tempo não está ao lado de quem espera.”

Com essas palavras, a delegação do Norte se retirou, deixando o salão em um silêncio ainda mais denso. Luiznho Ecariodes permaneceu imóvel, seus pensamentos girando em torno das palavras dos Infieis, enquanto Darius de Astar, sentado em seu trono, sorria enigmaticamente, como se já tivesse visto tudo aquilo em suas visões.

O Imperador finalmente levantou-se, quebrando o silêncio dentro de si. Ele sabia que a decisão final estava próxima, e que seu reinado, agora mais do que nunca, seria testado.

Capítulo 4: As Vozes do Norte

O salão do trono imperial estava especialmente silencioso naquele dia. As tapeçarias vibrantes e os lustres de cristal refletiam uma atmosfera solene, enquanto os guardas mantinham suas posições rígidas ao longo das paredes de mármore. No centro, sentado no trono imperial, estava o Imperador Luiznho Ecariodes, sua postura austera, mas seu semblante carregado de uma paciência forjada em anos de governança. Diante dele, os infiéis do Norte, delegados enviados pelas províncias rebeldes, aguardavam com olhares desafiadores.

Os líderes do Norte tinham vindo negociar — ou, pelo menos, fingir que estavam dispostos a isso. Eles se colocavam como um bloco unificado, mas suas roupas e escudos de armas exibiam a diversidade de seus clãs. Um deles, o mais velho e de aspecto severo, começou a falar, rompendo o silêncio que enchia o salão.

“Majestade,” começou ele, com um tom calculado e formal, “viemos como representantes das terras do Norte. Há muito tempo que nossas necessidades têm sido ignoradas pela capital. Nós, que lutamos nas fronteiras, que enfrentamos os rigores do inverno e a escassez das colheitas, somos relegados a segundo plano enquanto o Sul floresce com as riquezas do Império.”

A cada palavra, o tom de indignação crescia nas falas do ancião. Os outros, ao lado dele, assentiam vigorosamente. O Imperador, contudo, manteve-se em um silêncio estudado. Observava cada palavra, cada movimento. Seus dedos batiam suavemente no braço do trono, em um ritmo lento e constante, como se tentasse conter uma tempestade interior.

“Por tempo demais, nossas caravanas têm sido interceptadas, nossos tributos aumentados, e nossa voz... ignorada!” O líder do Norte ergueu o tom, sentindo a força de suas próprias palavras.

Enquanto ele falava, o Imperador Luiznho sentia o fervor crescer dentro de si. A vontade de responder, de calar aquela voz insolente, era quase insuportável. Ele queria gritar, lançar palavras afiadas como lâminas que poderiam cortar aquela arrogância. Queria lembrá-los de que, sem o Império, o Norte teria caído nas mãos de invasores estrangeiros. Queria lembrá-los de que seus exércitos ainda dependiam das armas forjadas na capital e do apoio que, apesar de seus reclamos, sempre chegava.

Mas Luiznho manteve-se calado. Ele sabia que o momento de falar ainda não havia chegado.

“E, agora, demandamos que o Império nos trate com o respeito que merecemos. Caso contrário, Majestade, será inevitável que procuremos... outros meios para garantir a nossa sobrevivência e prosperidade.” A insinuação de separação era clara. O ar no salão ficou mais pesado, e alguns dos guardas se mexeram desconfortavelmente, atentos ao desenrolar da situação.

O Imperador Luiznho, no entanto, continuou ouvindo em silêncio. A pulsação em sua têmpora latejava, mas ele não deixou transparecer sua fúria crescente. Por mais que quisesse colocar aqueles homens em seus devidos lugares, ele sabia que o silêncio, às vezes, era mais poderoso do que qualquer discurso.

Os infiéis terminaram sua lista de exigências. Pediam autonomia em questões econômicas, redução de tributos e mais participação nas decisões militares. Pediam o impossível — ou, pelo menos, algo que desmantelaria a coesão do Império se fosse concedido.

O líder do Norte cruzou os braços, satisfeito com seu discurso. Seus companheiros murmuravam entre si, acreditando que haviam conseguido dominar a situação. Eles esperavam que o Imperador finalmente respondesse, que mostrasse fraqueza ou tentasse barganhar com eles.

Mas Luiznho Ecariodes permaneceu imóvel. Ele sabia que esse era o momento mais crítico. Se falasse agora, poderia incendiar a negociação e arriscar uma revolta. No entanto, dentro de si, um discurso se formava. Um discurso que o queimava por dentro. Ele queria lhes mostrar a força do Império, lembrá-los de que estavam diante do homem que, apesar de sua aparência tranquila, tinha o poder de destruir tudo o que haviam construído.

Ele queria dizer que, sem o Império, as províncias do Norte não passariam de terras selvagens, saqueadas por bárbaros. Que sua riqueza vinha justamente da ordem imposta pela capital. Queria desafiar a audácia daqueles que ousavam levantar a voz contra o trono. Mas ele continuou a escutar. Seu silêncio falava mais alto do que qualquer argumento.

O líder do Norte, notando a ausência de resposta imediata, começou a parecer desconfortável. O peso do silêncio imperial começava a ser insuportável. Os murmúrios de seus homens cessaram, e agora eles também olhavam para o Imperador com uma ponta de apreensão.

E então, como se tivesse se recuperado de um golpe, o infiel mais jovem, impaciente, deu um passo à frente, rompendo a quietude. “Majestade, sua ausência de resposta nos deixa com dúvidas. O que o Império tem a dizer sobre isso?”

O silêncio continuou por mais um instante, prolongado, carregado. O Imperador Luiznho, então, finalmente mexeu-se, inclinando-se um pouco para a frente em seu trono. Seus olhos, até então calmos, estavam agora sombrios, como se carregassem o peso de séculos de liderança e decisões difíceis.

Mas ele não falou. Apenas observou. Continuou...

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