Há mais de trinta anos, cheguei à Brasília com olhos estrangeiros e coração inquieto.
Encontrei aqui uma cidade esculpida na geometria dos sonhos — traçada por mãos que desenharam o futuro no cerrado.
E foi nesse palco moderno, onde o concreto se curva ao céu e o horizonte se expande em silêncio, que descobri meu ofício mais íntimo: dar à arquitetura uma segunda vida, à noite, com luz.
Mas a luz, aprendi, tem poder.
Ela revela — mas também pode apagar.
Ela encanta — mas também consome.
Ela celebra — mas, se mal utilizada, castiga o planeta.
Por isso hoje, mais do que nunca, iluminar exige consciência.
A Beleza Que Não Fere
Brasília não pode mais se contentar com a grandiosidade estética.
Ela precisa ser, também, grandiosa em ética ambiental.
Não é mais tempo de excessos.
É tempo de delicadeza técnica, de escolhas sutis, de projetos que respeitam tanto a obra de Niemeyer quanto os ciclos da natureza.
A luz que proponho é aquela que toca — sem invadir.
Que revela volumes — sem ofuscar o céu.
Que acolhe o olhar — sem esgotar os recursos.
Crítica à Luz Que Machuca
Ainda vemos fachadas acesas desnecessariamente até o amanhecer.
Luminárias mal direcionadas que despejam claridade em árvores, ninhos, janelas.
Postes que consomem energia mesmo com o céu já aceso por um novo dia.
Isso não é apenas desperdício.
É agressão.
É ruído visual, é poluição luminosa, é o esquecimento de que a noite também tem direito à sombra.
A luz, quando usada sem critério, vira barulho.
Mas quando usada com sabedoria, ela sussurra — e encanta.
Visão: Brasília Como Capital da Luz Consciente
Eu sonho — e trabalho — por uma Brasília que se torne modelo global de capital verde e iluminada com inteligência.
Uma cidade onde cada projeto de iluminação tenha alma, eficiência e propósito.
Onde a beleza caminhe lado a lado com o respeito ao planeta.
Imagino a Esplanada iluminada com tecnologia solar.
A Catedral respirando com LEDs sensíveis à intensidade natural do crepúsculo.
Os monumentos suspensos em poesia luminosa — sem ferir o ambiente, sem roubar o escuro do céu.
Essa Brasília existe. Está no alcance das mãos — e da vontade.
O Papel do Light Designer no Século XXI
Hoje, um light designer não é apenas um criador de atmosferas.
É um guardião da noite, um curador da emoção urbana, um defensor do equilíbrio entre técnica e natureza.
Somos, de certa forma, poetas do invisível.
Nosso material não é só luz, é tempo, é silêncio, é cuidado.
Iluminar sem agredir é mais do que uma técnica —
é um manifesto.
Conclusão: A Luz Que Queremos Deixar
A cidade que sonhamos começa na escolha de como ela brilha.
Que Brasília não seja apenas a capital da política ou do concreto modernista.
Mas também a capital da consciência luminosa, onde a noite é respeitada, o ambiente é preservado, e a luz se torna ponte entre o humano e o essencial.