A Verdade Escondida: Como a Criação de Deus e da Religião Moldou Seu Ego e a Sociedade em que Você Vive

"A união de um deus e uma religião para criar uma sociedade artificial com o objetivo de nivelar o ego."

Essa frase parece uma provocação — e é. Mas mais do que isso, ela revela uma engrenagem invisível, porém essencial, que movimenta a história da civilização humana: a construção simbólica de um Deus, unida à criação de sistemas religiosos, como resposta à necessidade de domar o ego e manter a ordem social.

Essa ideia, longe de ser uma simples especulação, encontra base sólida na psicanálise, especialmente na obra de Sigmund Freud. Para ele, a religião não nasce do divino, mas da psique humana. E sua função central é clara: conter os impulsos do ego, impor limites e garantir a sobrevivência do grupo através da moral coletiva.


🧩 Por que criamos Deus?

Imagine o ser humano ancestral, pequeno diante da natureza, vulnerável ao acaso, à violência e à morte. Era necessário criar sentido. E mais do que isso: era necessário criar um limite para o ego humano, uma força interna capaz de conter o desejo de destruição, dominação e prazer a qualquer custo.

Nas palavras de Freud em O Futuro de uma Ilusão, a religião surge como uma resposta emocional à fragilidade humana — uma ilusão necessária. Ela oferece consolo, regras e uma autoridade invisível que tudo vê, tudo julga, tudo pune ou recompensa.

Esse Deus criado pela mente humana não surge por acaso. Ele é o reflexo idealizado do pai — uma figura de proteção e ao mesmo tempo repressão. E a religião, com seus mandamentos, rituais e pecados, transforma essa figura em lei moral universal.


⚖️ Sociedade artificial: repressão como estrutura

Em O Mal-Estar na Civilização, Freud vai além: mostra como a civilização se constrói sobre um paradoxo. Para que a vida em grupo funcione, cada indivíduo precisa reprimir seus desejos mais profundos. O ego, naturalmente instintivo, é domesticado por um conjunto de regras simbólicas que o empurram para o comportamento aceitável.

E qual ferramenta a humanidade criou para impor essas regras? A religião.

A união entre Deus e religião constrói, portanto, uma sociedade artificial: não natural, mas necessária. Uma sociedade onde o impulso é pecado, onde o desejo é culpa, e onde o medo da punição eterna vale mais do que a consciência crítica.

Essa construção psicológica nivelou o ego humano. Todos se tornaram igualmente pequenos diante do olhar divino. E foi assim que a ordem social se estabeleceu.


⛓️ O preço da repressão

Mas nada vem sem custo. A repressão contínua dos impulsos gera angústia, neurose, sofrimento interno. A própria sociedade que criamos para nos proteger, muitas vezes, torna-se prisão emocional e psíquica. O superego, alimentado pela moral religiosa, torna-se um juiz cruel dentro de cada um de nós.

É esse conflito que Freud chama de "mal-estar da civilização": o desconforto constante de viver entre o que se deseja e o que se deve.


🔓 E se fosse possível enxergar com clareza?

Ao compreender essa dinâmica, não estamos negando o valor da fé ou da espiritualidade. Mas estamos tirando o véu da ilusão inconsciente, e olhando de frente para o papel que a religião exerceu — e ainda exerce — sobre o nosso comportamento.

Talvez seja hora de parar de viver apenas sob o medo do castigo ou a promessa de salvação, e começar a cultivar uma consciência ética autêntica, baseada não em punições divinas, mas na responsabilidade pessoal e coletiva.


📚 Conclusão: o que Freud nos ensina sobre Deus, religião e ego

Freud nos convida a encarar o desconforto da liberdade. A perceber que, sem a religião tradicional como freio, o ego precisa encontrar outros modos de se autorregular — com maturidade, empatia e consciência.

A frase inicial, “a união de um deus e uma religião para criar uma sociedade artificial com o objetivo de nivelar o ego”, deixa de ser apenas uma provocação e passa a ser um convite à reflexão.

Porque compreender os mecanismos invisíveis que moldam a sociedade é o primeiro passo para libertar o ego — sem destruí-lo, mas guiando-o para algo mais consciente, mais verdadeiro e mais humano.


📖 Fontes e referências:

  • Sigmund FreudO Futuro de uma Ilusão (1927)

  • Sigmund FreudO Mal-Estar na Civilização (1930)

  • Friedrich NietzscheA Genealogia da Moral

  • Yuval Noah HarariSapiens: Uma Breve História da Humanidade

  • Carl JungO Eu e o Inconsciente

Deixe um comentário